"Esse blog foi criado com a intencionalidade de divulgar fanfics curtas sobre Michael Jackson. Alguns contos podem conter cenas de sexo: e estes estão sinalizados com a tag [+18]. Espero que nenhum deles seja mal interpretado, visto que são escritos com muito amor por uma fã que respeita o Michael em primeiro lugar. Sejam muito bem vindos e espero que se divirtam lendo os contos tanto quanto me divirto escrevendo-os. Enjoy!"

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

"Sempre ao seu lado"

Esse é um conto verdadeiramente especial para mim. Fala sobre um assunto delicado, que evitei ao máximo escrever até hoje, mas de certa forma, tive uma grande necessidade de fazê-lo. É como dizer"Michael, não importa o que aconteça, as pessoas que te amam estarão sempre ao seu lado" .
Espero que gostem, foi escrito com muito carinho.
Kisses and hugs.


“O verdadeiro homem mede a sua força, quando se defronta com o obstáculo.”
Antoine de Saint-Exupéry



Qual é a primeira coisa que vem a cabeça das pessoas quando elas escutam o nome Michael Jackson? Música, certamente. Dança, videoclipes, inovação na maneira de produzir arte. Filantropia, rancho Neverland, recusa em deixar totalmente de ser criança. Essas são as coisas que a maioria das pessoas costuma pensar. E era exclusivamente o que eu pensava. Até ter a oportunidade única de conhecê-lo.

Hoje, ao ouvir o nome Michael Jackson, a primeira coisa que me vem à mente é a palavra luta. Vejo-o como um homem que lutou com todas as suas forças contra diversos tipos de males. Travou batalhas contra a mídia, contra o preconceito, contra mentiras que pretendiam manchar a sua reputação: e, como o desafio mais difícil e exaustivo de todos, ele lutou contra si mesmo. Contra seus próprios medos, suas próprias dores e angústias. Foram momentos cheios de incerteza, quando muitos acreditaram que tudo estava perdido. Mas eu, em minha mais completa fé e perseverança, nunca duvidei de que ele iria conseguir. Michael era um guerreiro, não demorei muito a perceber. Ele não se deixava abalar com facilidade.

Conheci Michael Jackson pessoalmente em uma festa promovida pela Sony, pouco mais de um ano antes do lançamento do seu álbum Invincible. Na época eu estava com 23 anos e trabalhava no setor artístico da gravadora, na projeção de capas, encartes e banners de divulgação. Estava claro que, apesar de outras celebridades estarem presentes, Michael era o convidado mais importante daquela festa. Todos, inclusive os próprios artistas, queriam falar com ele, comentar sobre seu trabalho, puxá-lo para uma foto. Não pensei duas vezes antes de me aproximar para apertar sua mão e dizer acompanhava sua carreira desde o álbum Bad. Conversamos por bastante tempo e fiquei encantada com a forma como ele me deu sua atenção e carinho, mesmo sem nunca ter me visto antes na vida. Ele foi incrivelmente gentil, simpático e educado, além de ser dono de uma simplicidade tão grande que tornava difícil assimilá-lo ao homem rico, poderoso e hiper famoso que realmente era. Nem pude acreditar quando, pouco antes de ir embora, ele pediu a seu motorista que perguntasse o meu número de telefone. Atendi o seu pedido; na verdade sem acreditar que ele realmente ligaria, e confesso que me senti extremamente surpresa com sua atitude. Surpresa e, é claro, lisonjeada por ter despertado seu interesse.

Após esse primeiro encontro, tudo passou a acontecer rápido demais. Recebi um telefonema seu duas semanas depois e passamos a nos comunicar frequentemente por telefone. Jantamos juntos algumas vezes e começamos a conhecer cada vez mais um sobre o outro. Meses depois fui convidada a visitar o seu rancho Neverland... e o que aconteceu lá, durante minha primeira estadia, mudou definitivamente o rumo da minha vida. 

Mais do que amigos e confidentes, eu e Michael nos tornamos amantes. Comecei a fazer parte do convívio dele e dos seus filhos. Ele dizia a todos que eu era apenas uma amiga, pois não desejava que nosso relacionamento fosse descoberto pela mídia e dissecado em jornais, revistas e programas de televisão. “Admiti meu envolvimento com Lisa e veja o que aconteceu” ele sempre dizia. “Fizeram todo o inferno para que as pessoas não acreditassem que estávamos realmente juntos.” 

Michael sempre procurou manter sua privacidade e esta é a razão pela qual ninguém nunca soube que estávamos vivendo um romance. Às vezes ele era até mesmo um pouco paranoico em relação às pessoas que faziam parte do seu círculo de convivência. Ele tinha medo de que todos estivessem o espionando, colhendo informações para vender para a imprensa ou para os artistas concorrentes. Isso é absolutamente compreensível, levando em conta que ele já havia sido traído por muitas das pessoas em quem confiava. Se eu já percebera que ele era um pouco desconfiado em relação aos outros, pude comprovar isso definitivamente na primeira vez que fizemos amor. Foi nessa ocasião que eu tive a dimensão do quanto o envolvimento com outra pessoa era complicado para ele. 

“Você irá me prometer, Amber, que o que nós fizermos nesse quarto não será contado a ninguém” ele disse parando de beijar meus lábios, assim que me acomodou em sua cama. 

“Confie em mim, okay?” eu respondi enlaçando os braços em volta do seu pescoço. 

“Apenas prometa” ele insistiu. 

“Tudo bem, eu prometo” murmurei beijando seus lábios de leve. “Mas me diga... Você acha que as pessoas não sabem que você transa?” perguntei encarando-o com um sorriso divertido, achando engraçado o mistério que ele gostava de criar em torno de si. 

“Alguns nem sequer imaginam” ele respondeu, sua face tingindo-se repentinamente de rubor. “É a nossa intimidade afinal de contas. Ninguém precisa ficar sabendo.” 

Ele me beijou e começou a desabotoar minha blusa, apertando suavemente meus seios ao finalmente conseguir libertá-los. Desenhou uma sequência de beijos no meu pescoço e tocou um dos mamilos com os dedos, começando a massageá-lo cuidadosamente com a língua molhada. 

“Isso é muito bom, sabia?” gemi infiltrando as mãos em seus cabelos. 

“Oh baby, eu sei” ele murmurou. “Imagina só quando a minha boca chegar lá embaixo.” 

“Michael... você... vai...?” Um sorriso de satisfação estampou-se em meus lábios. “Meu Deus, o Rei do Pop é um tremendo pervertido disfarçado de garoto inocente.” 

Ele sorriu, um risinho carregado de malícia, e desceu os lábios pela minha barriga. 

“Você ainda não viu nada, Amber. Mas não se preocupe. Logo você verá” 

Michael mostrou-se incrível na cama. Delicado, experiente, afetuoso, quente e sempre ávido por mais. O sexo tornou-se um fator muito importante no nosso secreto relacionamento, mas não era a única coisa que nos ligava um ao outro. Estávamos verdadeiramente apaixonados. Eu o amava mais do que sou capaz de explicar em palavras. Queria cuidar dele, sempre tê-lo por perto. Aqueles primeiros meses foram absolutamente maravilhosos para nós, cheios de momentos felizes e descontraídos. Mas não demorou muito para que nossos sentimentos fossem postos à prova. 

Uma semana antes do lançamento de Invincible, quando já estávamos juntos a vários meses, o temperamento de Michael estava bastante afetado pela pressão constante da gravadora. Além de estar se desentendendo com a Sony por conta de divergências no orçamento para promover o disco, Michael acreditava que estavam tentando boicotá-lo. As faixas do disco ainda não haviam sido escolhidas e as gravações ainda estavam sendo finalizadas. Ele dizia que os produtores estavam atrasando as coisas de propósito para que ele não conseguisse cumprir os prazos estabelecidos. Eu nunca o vira sob tanta pressão antes. Ele estava no centro de um turbilhão de acontecimentos. Reclamava que tudo recaía sobre ele e que, há muito tempo, ele não estava conseguindo fazer sua arte como realmente desejava. 

Eu sabia no que Michael se refugiava quando sentia perder o controle sobre as coisas. Por diversas vezes eu o vi sendo medicado, e no início até achei que era uma coisa normal. Mas com o passar do tempo eu percebi que não havia nada de normal naquilo. Ele estava, há muitos anos, viciado em remédios e, infelizmente, a maioria das pessoas ao seu redor não fazia nada de efetivo para ajudá-lo. Os médicos alimentavam o vício, quando na verdade deveriam tirá-lo daquela situação. Perdi as contas de quantas vezes cheguei em Neverland e encontrei Michael sedado, falando coisas que não faziam o mínimo sentido. Fiz ele me prometer que não faria aquilo outra vez e, por um momento, achei que ele realmente iria cumprir sua promessa. 

Aquele era um campo absolutamente minado na nossa relação. Ele não gostava de intromissões em sua vida e não admitia que ninguém o dissesse o que fazer. Eu sabia que aquele caminho era perigoso e que Michael não conseguiria sair dele sozinho. Minha impotência doía, me tornava uma pessoa com um constante sentimento de frustração. Do que poderia valer o meu amor se eu não pudesse ajudá-lo a lidar com seus problemas? Mas como eu poderia o fazer, se ele simplesmente me afastava cada vez que resolvia sucumbir àquele vicio maldito? 

Creio que aquela complicada situação atingiu o seu ápice no dia do meu aniversário, quando ele deveria ter aparecido no meu apartamento para um jantar de comemoração. Ele costumava se atrasar às vezes, mas naquela noite ele extrapolara muito o horário que marcamos. Liguei para Neverland, preocupada com o que poderia estar acontecendo, e Grace me disse que Michael estava dormindo. Soube no mesmo instante que ele não estava dormindo um sono normal. Era meu aniversário e eu sabia que ele não havia esquecido. Além do mais, estava cedo demais para dormir. Sem pensar duas vezes, dirigi até o rancho e, duas horas depois, eu estava frente a frente com Grace. 

Quando eu cheguei, Prince, na oportunidade com 4 anos, e Paris, com 3, estavam na sala com Grace, brincando com jogos de montar. Havia uma tensão no ar, algo que as crianças não conseguiam perceber, mas que todos os empregados compartilhavam. Agachei no tapete, deu um beijo na testa das crianças – que me conheciam como tia Abby – e virei-me na direção da babá, esforçando-me para não me mostrar muito nervosa e preocupada. 

- Onde ele está, Grace? – perguntei. 

- Lá em cima – ela respondeu. – Dormindo. 

- Desde quando? – questionei. 

Ela hesitou por alguns segundos. 

- Desde antes do almoço. O doutor Madison está com ele. 

- O papai não quis brincar hoje – Prince murmurou com sua vozinha doce e incrivelmente nítida. 

- Você pode subir e chamar ele? – Paris perguntou. 

- Posso, sim – respondi, com um nó na garganta. – Fiquem aqui com a Grace que eu irei ver como está o papai, okay? 

Os dois assentiram e eu encarei Grace por um momento, criando coragem para finalmente subir as escadas. 

Minutos depois eu estava no andar de cima, lutando contra minhas próprias pernas que se recusavam a caminhar até o seu quarto, com medo do que eu poderia encontrar quando o visse. Denzel, um dos seus quatro seguranças pessoais, estava andando de um lado para o outro no corredor, com o semblante preocupado. Ele aproximou-se de mim assim que avistou minha silhueta cruzar em direção à porta. 

- Não – ele murmurou impedindo minha passagem. – Não posso deixá-la entrar lá. O Michael está com o médico. 

- Pro inferno com esse médico! – bradei, sentindo uma mistura de medo, raiva e indignação por todos ali compactuarem com o absurdo de sedar Michael a cada vez que ele queria dormir. – Eu vou entrar e irei acordá-lo. 

- Você não pode – respondeu. – Ele está medicado. 

- Onde vocês estão com suas cabeças? – perguntei para o segurança. – Esse tal de doutor Madison enfia remédios nele com a simplicidade que uma criança enfia balas na boca. Ninguém aqui imagina o quanto isso pode ser perigoso?! 

- Amber... - Ele suspirou e, pelo seu olhar, dava para perceber com clareza que ele também não se sentia confortável diante daquela situação. 

- Eu disse que vou entrar, Denzel – afirmei colocando a mão na maçaneta. Como sabia que eu não iria desistir, ele apenas me observou e afastou-se, permitindo a minha entrada no quarto de Michael. 

Abri a porta e entrei, dando passos lentos em direção ao centro do quarto. O médico grisalho estava sentado em uma poltrona, olhando o jardim iluminado pela janela, e teve um pequeno sobressalto ao notar minha presença. Meus olhos, sérios e preocupados, procuraram por Michael no mesmo instante, e logo o encontraram. Ele estava deitado na cama, de pijama, dormindo com a expressão tranqüila, estirado de uma maneira estranha pelo colchão. 

Qualquer pessoa conseguiria perceber que aquele não era um sono habitual. A respiração dele estava tão fraca que parecia inexistente. Ele estava muito pálido, como se não houvesse sequer uma única gota de sangue correndo pelas veias. O braço esquerdo, repousado ao lado do corpo, estava vermelho e com alguns hematomas formados por marcas de agulha. Senti meus olhos encherem-se de lágrimas ao vê-lo e, por um momento, não consegui pronunciar nenhuma palavra. 

- Ele irá ficar bem – o médico disse para mim, levantando-se. 

“Bem? Ele não me parece nem um pouco bem” pensei comigo mesma, mas não consegui dizer a frase em voz alta. 

- Já fizemos isso antes – doutor Madison murmurou, na certa para me deixar um pouco mais tranqüila. – Tenho tudo sob controle. Logo ele estará acordado. 

Limpei as lágrimas, sem conseguir tirar os olhos de Michael. 

- O que o senhor deu pra ele? – perguntei com um fio de voz. – Valium? 

Ele balançou a cabeça negativamente. 

- Morfina. Mas não se assuste. Ele já vem usando há algum tempo. 

- O senhor diz que ele está usando morfina há algum tempo e ainda me pede pra ficar tranquila? – perguntei sem conseguir acreditar na sua calma. – Não preciso frequentar a faculdade de medicina pra saber que isso é completamente errado e arriscado. Vocês andam anestesiando o Michael para que ele possa dormir? Meu Deus... Ele está cercado de loucos. 

- Ele estava muito agitado, não dormia há mais de cinco dias – tentou justificar. – Precisávamos fazê-lo descansar. 

- Por que o senhor atende quando ele pede essas merdas? Que espécie de médico é o senhor? – Sem esperar uma resposta, fui na direção de Michael e acariciei seus cabelos, preparando-me para acordá-lo. – Vou acabar com isso, agora. 

- Minha jovem, você pode chamá-lo, sacudi-lo, jogá-lo pela janela se quiser, mas nada disso irá colocá-lo de pé – o médico resmungou. – Ele só irá acordar quando o efeito do medicamento cessar. 

- Daqui a quanto tempo? 

- Umas duas horas. 

- Ficarei aqui – afirmei. – E nem pense em dizer que não. Quero me certificar de que o senhor não irá cometer a insanidade de aplicar outra dose se ele acordar pedindo por mais. 

O médico abriu a boca para dizer algo, mas conteve-se. Voltou a se acomodar em sua poltrona e eu me sentei ao lado de Michael, esforçando-me para controlar as lágrimas que surgiam a cada vez que eu olhava para sua pele clara completamente marcada. Vendo-o daquela forma, tão frágil e vulnerável, eu só conseguia pensar em protegê-lo. Deus sabe que eu me colocaria em seu lugar se fosse possível. Eu só conseguia pensar em um trecho da canção “Will You Be There” e me perguntar se ele a compusera em um momento parecido com aquele. 

“Quando cansado
Diga se você vai me abraçar
Quando errado, você vai me moldar?
Quando perdido, você vai me achar?”

Segurei sua mão fria e permaneci com ela na minha por todo o tempo em que Michael continuou a dormir. Horas depois pude notar suas primeiras reações e apenas muito tempo mais tarde ele conseguiu abrir os olhos. Pensei que ele iria se assustar com a minha presença ali, mas ele nem pareceu perceber. Era como se ele continuasse a dormir, porém de olhos abertos. Chamei o seu nome suavemente, mas logo pude notar que ele nem sequer me escutava.

- É normal... – o médico murmurou para mim. – O efeito do medicamento irá se esvair do corpo dele lentamente e logo ele conseguirá levantar.

- O senhor pode nos deixar sozinhos? – perguntei. – Eu posso cuidar dele agora. 

Apesar de visivelmente contrariado, doutor Madison não fez nenhuma objeção ao meu pedido. Assim que ele juntou alguns frascos e os colocou em uma maleta branca, saiu do quarto sem se despedir. 

- Michael... – chamei novamente, na esperança de que ele já conseguisse ouvir minha voz. – Michael, pelo amor de Deus, diga-me que você está conseguindo me ver. 

Nada. 

- Por que você faz isso? – sussurrei baixinho, acariciando seu rosto com a mão trêmula. – Você não precisa. Não precisa viver assim. 

Ele permaneceu de olhos abertos, sem esboçar nenhuma reação, enquanto eu tentava manter um elo de comunicação, por mínimo que fosse. 

- Amber... – ele conseguiu dizer pouco depois, com a voz embolada e quase ininteligível. – O que você está fazendo... aqui, garota? 

- Impedindo que você se autodestrua – respondi com um suspiro de frustração. – Você pediu que ele lhe desse morfina, Michael? 

- Que horas são? – perguntou com a expressão perdida, como se não tivesse a mínima noção do tempo e do espaço. 

- Bem tarde – murmurei. – Pelo que a Grace disse quando cheguei, você está nesse quarto desde antes do almoço. 

- Eles estão no rancho, não estão? – afirmou com os olhos repentinamente sobressaltados. – Eles estão por toda parte. 

- Eles quem? – perguntei sem entender. 

- Eu tenho que sair daqui – ele murmurou, fazendo impulso para se levantar. - Aqueles filhos da mãe... Aqueles filhos da mãe... Eles querem colocar o Justin no meu lugar. 

Puxei-o para cama novamente, impedindo-o de tentar sair andando. 

- Ninguém quer colocar ninguém no seu lugar, tá bom? – tentei tranquilizá-lo. – Justin Timbarlake não é ninguém comparado a Michael Jackson. 

- Escuta, Amber, escuta – disse com a voz ainda embolada. – Querem... Eles querem destruir a minha música. A Sony sabe de tudo. São eles, são eles. 

- Michael, olha pra mim – eu disse, puxando-o para perto. 

- Mas que inferno! – ele gritou com um tom estranho de voz, levantando-se aos tropeços. – Eu não te chamei aqui. Vá embora! Onde está o doutor Madison? Pra onde você o mandou? 

Levantei-me e o agarrei pelo braço, conduzindo-o na direção do banheiro mesmo contra sua vontade. Ele estava perturbado, mais nervoso que o habitual, e eu sabia que isso era efeito colateral do dia inteiro dormindo artificialmente. 

- Você precisa lavar o rosto, Michael – eu disse. 

- Eu já mandei você ir embora – ele reclamou. – Saia. Fique com eles. Todos se voltam contra mim, uma a mais não vai fazer diferença. 

- Minha nossa... Você faz ideia das merdas que está dizendo? 

Eu o guiei na direção da pia e forcei seu rosto na direção da torneira. 

- Seus filhos estavam lá embaixo quando cheguei, e eles estavam querendo saber de você. Você precisa tirar os efeitos dessa droga do organismo, cara. Se não for por mim, que seja por eles. 

Ele encarou seu reflexo no espelho e começou a chorar. Estava com os cabelos desgrenhados, a pele ainda mais pálida, os olhos sem foco algum. 

- Também vão querer levar minhas crianças – ele fungou. – Não vou deixar que tirem meus bebês de mim, Abby. Eu não suportaria. 

- Eles não irão tirar seus filhos de você – murmurei, ajudando-o a lavar o rosto, afagando seu ombro. – Você é um ótimo pai. 

Michael apoiou as duas mãos na pia e permitiu que a água corresse por sua pele. Vi ele fazer vômito embaixo da torneira e o ajudei a se limpar e se secar com uma toalha branca de algodão. 

Ele estava trêmulo, parecia cansado e desconfiado. Esforçou-se para controlar a respiração e quando pareceu estar um pouco mais lúcido, ele levantou a cabeça e me encarou pelo espelho. 

- Você prometeu que não faria mais isso – eu murmurei para ele, inconformada com seu estado, observando seu reflexo com os olhos marejados. – Por que continuar a se entupir com essas porcarias? 

- Não sou nenhuma criança, Amber – ele respondeu com firmeza, soltando um longo e pesado suspiro. – Sei muito bem como cuidar de mim. 

- Você e sua teimosia idiota – reclamei. – Você não pode continuar a alimentar esse vício doentio. Não vê que isso pode acabar te matando? 

Ele franziu o cenho. 

- Quem você pensa que é para dizer o que eu posso ou não posso fazer? 

Meu coração se apertou e fitei seu reflexo com frustração. Será que ele não conseguia perceber o quanto suas atitudes preocupavam todos que o amavam? 

- Eu gostaria muito de ter coragem suficiente pra desistir de você, sabia? 

Suas sobrancelhas se arquearam e ele deu de ombros, como se não se importasse. 

- Oh sim, você não seria a primeira – rebateu com sarcasmo. - Diga-me, por que não o faz? 

Uma lágrima escorreu pelo meu rosto e eu o virei para mim, esticando a mão para tocar sua face. Como eu poderia desistir? Como eu poderia abandoná-lo? 

- Porque eu não suportaria te perder – sussurrei baixinho, olhando em seus olhos. – Perder você, Michael, seria como perder uma parte de mim mesma. 

Ele engoliu em seco e desviou os olhos dos meus, com a respiração descompassada. 

- Você não vê que precisa de ajuda? – perguntei. – Você pode contar com a ajuda dos melhores profissionais do mundo. Precisa descobrir o que causa a sua insônia e se livrar da necessidade de usar medicação. 

- Eu sinto dores, Amber – ele disse, e vi que seus olhos também estavam cheios de lágrimas. – Acha que nunca tentei me tratar? 

- Tem que haver algum jeito – murmurei. Suspirei e passei as mãos delicadamente pelo seu peito. – Michael, eu quero que você me prometa algo. 

- Não gosto de promessas. 

- Mas irá prometer – eu disse com determinação. – Irá prometer, porque nada poderei fazer se você não aceitar a minha ajuda. 

Ele assentiu e continuou a me fitar. 

- Tudo bem, diga. 

- Quero que você me prometa, que quando sentir vontade de chamar o doutor Madison, irá chamar a mim – murmurei. - Eu virei, Michael, não importa onde eu esteja. Virei para me deitar ao seu lado, fazer cafuné na sua cabeça, entoar canções de ninar, mesmo que nada disso te faça dormir. Eu irei abraçá-lo, colocá-lo no colo, balançá-lo em meus braços, mesmo que você permaneça a noite inteira acordado. Farei tudo que puder, mesmo que nenhuma das tentativas demonstre resultado, simplesmente porque sei que o amor que eu quero te dar é muito melhor do que qualquer medicamento. Você não está sozinho. Não está sozinho e tem que saber disso. 

Nossos olhos agora estavam completamente vermelhos e ele me abraçou, infiltrando uma das mãos nos meus cabelos para me manter o mais próximo possível. Seus lábios repousaram-se sobre os meus levemente e o apertei com força em meus braços quando fui beijada. 

- Eu prometo – ele sussurrou. – Eu prometo. 

Permanecemos abraçados por vários minutos, como se nossas próprias vidas dependessem daquele contato, e quando ele finalmente se afastou, enrolou uma mecha dos meus cabelos escuros nos dedos e a colocou atrás da orelha. 

- Sabe aquela história de se apaixonar pela pessoa errada? – ele perguntou com um fio de voz. – Acho que aconteceu com você. Você se apaixonou pela pessoa errada, Amber. 

Balancei a cabeça negativamente. 

- Pare com isso, Michael. Não existe isso de se apaixonar pela pessoa errada – respondi. – Quando se ama de verdade, essa tal pessoa errada é a única pessoa certa para o nosso coração. 

Ele conseguiu sorrir e me abraçou novamente. 

- Eu te amo. – Beijou meus lábios e apertou os olhos com pesar. – Oh Deus, feliz aniversário. 

Assenti. 

- Obrigada. 

- Nosso jantar – ele murmurou colocando o rosto entre as mãos. – Droga, eu estraguei tudo. 

- Não, não precisa se preocupar com isso. O ano possui 345 dias, podemos jantar em qualquer um deles – respondi com uma piscadela. 

- Comprei um presente para você... – ele sussurrou com um pouco de confusão mental. – Mas... não estou conseguindo me lembrar de onde o coloquei. 

- Sei onde está meu presente – murmurei, roçando meus lábios lentamente pelas suas bochechas. – O maior que já recebi. 

Ele riu com suavidade. 

- Sério? E onde está? 

Beijei seus lábios e enlacei os braços no seu pescoço. 

- Bem aqui na minha frente – respondi, quando nossos lábios se separaram. 

Ele me abraçou e acariciou meus cabelos. 

- Eu preciso de você – sussurrou ao meu ouvido. – Prometa que não irá me abandonar. Que não me deixará sozinho. 

- Pensei que você não gostasse de promessas – murmurei. 

- Oh, por favor, Abby – insistiu. 

- Claro que não irei abandoná-lo – confirmei fitando seus olhos. - O que quer que aconteça, e digo isso sem sombra nenhuma de dúvida, seja como sua namorada ou apenas como uma amiga, eu irei estar ao seu lado. 

“Em nosso momento mais escuro
Em meu desespero mais profundo
Você ainda vai se importar?
Você vai estar lá?
Em meus julgamentos e tribulações
Em nossas dúvidas e frustrações
Em minha violência 
Em minha turbulência 
Por meus medos e confissões 
Minha angústia e minha dor 
Minha alegria e meu sofrimento 
Na promessa de um outro amanhã. 
Nunca te deixarei partir 
Porque você está sempre em meu coração”

Ele me abraçou novamente, tão apertado que quase me roubou todo o ar. Sabíamos - pela primeira vez sabíamos de verdade - que poderíamos lutar contra aquilo tudo juntos. Contanto que estivéssemos um ao lado do outro, teríamos força suficiente para superar todas as adversidades e obstáculos no caminho. Com Michael, aprendi que os desafios não existem para nos desanimar ou desencorajar. Eles existem, simples e unicamente, para nos tornarem mais fortes. E força é, sem a mínima sombra de dúvida, algo que Michael sempre demonstrou: mesmo nos momentos mais difíceis da sua vida.



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